Padre de Monsenhor Tabosa, no CE, escreve artigo falando sobre o “atual conflito” que envolve a nação brasileira.

Padre de Monsenhor Tabosa, no CE, escreve artigo falando sobre o “atual conflito” que envolve a nação brasileira


Padre Adenor Claudino
O Padre Aldenor Claudino de Oliveira, de 52 anos, natural de Crateús-CE, atualmente a serviço da Paróquia de Monsenhor Tabosa, CE, tem se mostrado um grande observador dos movimentos políticos e sociais do Brasil, além disso tem exposto suas impressões por meio da escrita, alguns artigos ganharam notoriedade pelo Portal Página Aberta. O mais recente trata da atual crise política vivenciada pelo Brasil.
ACUSAÇÃO OU CONVERSÃO?
(PARA REFLEXÃO DIANTE DO CONFLITO QUE ATUALMENTE ENVOLVE A NAÇÃO BRASILEIRA)
“Salva-me, ó Deus eterno! Pois já não há mais gente honesta e as pessoas de confiança desapareceram da terra. Todos dizem mentiras uns aos outros...” (Sl 12, 1-2).
Observações preliminares: A reflexão a seguir tornou-se relativamente longa, eu admito. Mas peço a você, leitor (a) uma coisa: Não desista de verificá-la por inteiro, nem pela extensão da mesma, nem por causa das primeiras ideais expostas. O Brasil merece nossa atenção e a dedicação do nosso tempo para refletir sobre ele e para ajudá-lo a encontrar saídas. Por amor a Pátria convém ir adiante...
      ESFORÇO DE IMPARCIALIDADE


Mais uma vez manifesto minha opinião e posição diante do quadro de crise que há vários meses vem sacudindo a Nação brasileira. A primeira vez foi há pouco mais de três meses. E eu o fiz através de um texto intitulado “Basta de teatro e hipocrisia”.
Teatro e hipocrisia, conforme expressei na reflexão anterior, é disfarçar a corrupção generalizada que invade as forças políticas brasileiras na sombra do que tem sido praticado pelo PT. O PT não foi o inventor das práticas fraudulentas e corruptas ilustradas pelas descobertas da “operação lava-jato”. Claro que a corrupção e desonestidade dos outros partidos não isenta o PT de suas culpas. Mas não saber ou não querer admitir a corrupção endêmica e histórica do jeito brasileiro de fazer política é, no mínimo, parcial e irresponsável.
De minha parte, confesso, há um assumido esforço de ser imparcial. Em meus 53 anos de vida o PT foi o partido que mais sufraguei, no qual mais votei. Mas não acredito que tal partido e mesmo seu líder maior (o carismático Lula) sejam puramente vítimas de malícias e invenções do juiz Sergio Moro. Não! O PT não é vítima!
No particular ex-presidente Lula, independente dos badalados “tríplex” e “sítio no Guarujá”, não acredito em sua isenção e desconhecimento em relação aos esquemas ilegais na Petrobras (e demais estatais). Foi seu governo que se beneficiou, que se sustentou à custa de superfaturamentos, propinas, caixas-dois! Corrupção, enfim!
Muitos dizem e dirão: “Mas o PT melhorou a vida dos pobres do Brasil; distribuiu melhor a renda...” Verdade! Quem quer ser imparcial não pode negar tal verdade! Mas e os fins justificam os meios? Práticas ilegais e corruptas deverão tornar-se aceitas porque trarão em seus rastros algum tipo de melhoria para as pessoas? Pessoalmente não concordo com isso. E despertando a memória dos brasileiros lembro o seguinte: o PT subiu ao poder federal no Brasil não foi declarando que seria igual e continuador das velhas e corrompidas práticas da política nacional. Muito pelo contrário! Suas teorias e promessas eram de inovação e transformação! Portanto, nada justifica o profundo desvio de conduta que envolveu os governos petistas.
Pelo que acabo de expor, estou indicando que agora sou adepto da oposição? Do PSDB, por exemplo? E acredito que tal partido é inquestionavelmente honrado? De modo nenhum!
Quando FHC conseguiu aprovar no congresso o procedimento da reeleição para cargos do Poder Executivo, ele não o fez apenas por força de argumentação e convencimento. Ali também existiram barganha, compra de apoio. Corrupção, portanto! Seguiu-se, com certeza, os mesmos esquemas praticados pelos governos Lula e Dilma.
Além dos ilícitos do período do governo tucano a nível federal, o Brasil é conhecedor (e vítima) de poderosas oligarquias políticas regionais. Bem recentemente e ainda influenciando a política brasileira, conhecemos o domínio Sarney, no Maranhão; a tirania de Antônio Carlos Magalhães, na Bahia; a força e fraude Maluf, em São Paulo.
E não é possível esquecer o alagoano Color de Melo. Produto artificial da Globo, chegou à Presidência da República e sofreu impeachment... (Tais forças acabaram, todas elas, parceiras do PT, quando este tornou-se governo).
O IMPEACHMENT
O impeachment voltou a ser debatido. O processo foi instaurado no Congresso Nacional. Mas a lisura, a honestidade e imparcialidade dos congressistas existe? Utilizo aqui, como resposta sobre conduta dos congressistas, a opinião de um agricultor do município de Crateús, interior do Ceará. Embora vendo certo exagero no dito do agricultor, eu o cito por reconhecer em sua opinião uma perspicácia crítica e uma ilustração de que nem todas as pessoas do povo são ingênuas ou simplesmente alienadas. Dos congressistas ele pensa: “são todos ladrões e mafiosos; precisava só murar o Congresso e contratar um bocado de guardas armados e eles já teriam o lugar que merecem, que é uma penitenciária”.
É forte, admito. Mas pessoalmente irei além. Apontarei a corrupção em quantidade e amplitude bem maiores que a dos 594 congressistas; e além dos partidos políticos e das estruturas governamentais do Brasil inteiro.
CORRUPÇÃO NA BASE SOCIAL
 É comum, rotineira e conhecida a venda de combustível adulterado Brasil afora;
 Muitas vezes já vimos a descoberta da falsificação de medicamentos;
 Conhecemos, por parte de pequenos e grande produtores, a venda de leite com água (e até com substâncias toxicas);
 Já vimos (e talvez saboreamos) sorvetes com preço de tabela remarcado (de R$1,00 para R$2,50, por exemplo);
 Sabe-se de casos em que merenda escolar tem os melhores produtos consumidos por diretores e professores, ficando para os alunos (quem realmente carece) o que é de qualidade inferior;
 Nos presídios do país, há casos em que a alimentação dos presos é de péssima qualidade, por motivo do desvio de recursos;
 Existem incontáveis casos de quadrilhas (com suas “excelências” advogados e juízes) que fraudam aposentadorias e roubam aposentados;
 Existem filhos, netos que fazem empréstimos no nome do pai ou vô aposentado, deixando o mesmo a pão e água;
 Existem inúmeros mecânicos que no conserto de veículos trocam peças e ficam com as melhores;
 Sabemos da propina na tarefa policial, levando muitos a fechar os olhos diante de crimes praticados no trânsito;
 E as máfias (médicos, “intermediários”, e falsas vítimas) que fraudam o seguro DPVAT? Forjando acidente de moto toda machucadura torna-se motivo de indenização;
 Compra-se diploma universitário em muitas áreas acadêmicas...
Enfim, a lista seria gigantesca caso pudéssemos identificar todas as formas de fraude e engano praticados por muitíssimos habitantes do Brasil. E ai, o que pensar e o que dizer? Mais do que um governo e um congresso corruptos temos uma Nação (certamente com exceções) de almas corrompidas! Quantas dessas almas têm marchado pelas ruas, cobertas pela bandeira nacional e gritando a favor do impeachment? Muitas! Bem muitas! Tenho certeza!
Fica evidente, para quem não argumenta contra fatos, que os humanos somos profundamente contraditórios. Quem assim não se reconhece merece ser classificado como ator, hipócrita, fingido.
DECISÃO A TOMAR
Agora, para quem quer admitir a contradição, que decisão deverá ser tomada diante do presente quadro nacional? Desistir de qualquer denúncia e luta a favor da moralidade e honestidade? Sentir-nos legitimados e acobertados pelas ilegalidades uns dos outros? E aí isolar-se, cada pessoa e cada partido, em seu mundo particular de práticas desvirtuadas e nocivas ao bem comum? A luta pelo impeachment deixa de ter cabimento e se torna sem legitimidade?
Olhando tudo isto com realismo e sem parcialidades percebe-se que nosso quadro político e social é complexo. Não se trata de uma realidade em que uns são puros e bons; e outros são sujos e iníquos. Daí, não é fácil um discernimento preciso e justo. Mas para quem ama a verdade, tal discernimento deve ser incansavelmente procurado. É o que, dentro de minhas possibilidades, estou tentando fazer e ousando propor a vocês, meus interlocutores.
Eu, além de cristão, sou um padre. Pois será nesta minha condição, com noções e ideias vindas de minha fé, que fundamento minha decisão e proposta perante o conflito político que nos agita e divide atualmente.
Não bastasse minha própria fé, há o fato de que a Nação Brasileira, predominantemente, é também cristã. A população, as correntes partidárias, os indivíduos que hora se conflitam, quase todos (via catolicismo ou igrejas evangélicas), foram batizados. Carregam, portanto, uma marca cristã. Assim, não é descabido invocar aqui, para iluminar e questionar as posições conflitantes de governistas e oposicionistas, alguns elementos advindos da nossa fé cristã.
Não estou de acordo com o impeachment. Ele não pacificará e não unificará nossa amada Pátria brasileira. E conclamo: DESISTAMOS TODOS de tal processo!
Seria verdadeiramente eficaz e construtivo um “por a mão na consciência” por parte de toda a Nação (partidos, de situação e oposição, governantes e população); um reconhecimento e confissão geral das iniquidades praticadas por todos. Com uma tal atitude, sincera e contrária a hipocrisia que temos alimentado até agora, atingiremos elevado patamar de maturidade humana, social e espiritual. E abriremos, em lugar do processo de impeachment, um processo de conversão nacional. Por “palavras de ordem”, em lugar das que gritamos raivosamente contra adversários e escondendo nossas próprias corrupções, novo grito ecoará:
SEM HIPOCRISIA, SEM MÚTUA ACUSAÇÃO;
A NOSSA PÁTRIA INTEIRA DESEJA CONVERSÃO!
TRÉGUA E PACTO PELO BRASIL
Admitidas as culpas e responsabilidades mútuas e gerais no pecado e corrupção que permeiam nossa vida social e política, é hora de uma trégua e um pacto pelo Brasil. Seria uma prova de que não queremos apenas continuar numa rivalidade cega, irracional; de que não está em jogo apenas uma disputa pelo poder (uns querendo manter-se nele e outros querendo reconquistá-lo).
Em que consistiria tal pacto? Não sou especialista em articulação política nem em estratégias governamentais. Mas arrisco opinar e levantar certas possibilidades.
O ponto de partida do pretenso pacto seria: Dilma fica no governo. Como que em segundo lugar: recompor os quadros do governo em moldes de conciliação e unidade nacional, tendo no ministério gente da oposição. Objetivo de tal direcionamento seria reerguer a economia do País, para que volte a gerar emprego; para que a inflação seja contida... E para que todos voltemos a ter ânimo e fôlego, em vista de soluções mais consistentes e duradouras para nossa vida política e nosso sistema de governo...
Subentende-se, considerando os elementos do pacto, que será preciso deixar ao conjunto dos eleitores brasileiros a tarefa do julgamento do atual governo e das diversas forças políticas que atuam hoje no País. E o momento para tal julgamento serão as Eleições de 2018.
Até 2018, porém, para completar e tornar eficiente o pacto a ser firmado presentemente, são necessárias medidas nos campos legal e jurídico. Deverão ser criadas leis mais rigorosas de combate à corrupção; deverá ser ampliada e facilitada a atuação do ministério público e do poder judiciário; a Polícia Federal deverá ser mais apoiada e ter mais autonomia de investigação (coisa que, se já não o é, deverá ser assegurada por lei)...
Finalmente, não espero que todos concordem comigo, mas espero abertura à reflexão sem partidarismo e sem paixão. E quem conseguir tal atitude que possa alargar a reflexão compartilhando este texto...
Padre Aldenor Claudino de Oliveira
Monsenhor Tabosa/CE, 27.03.2016.

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