“Nenhuma
família sem casa,
Nenhum
camponês sem terra,
Nenhum
trabalhador com direitos negados”.

Reafirmamos
que somos filhos e filhas da mãe terra (Gaia), e por isso que expressamos a
nossa preocupação na permanência dos jovens no campo, saúde de qualidade para
nós e nossas famílias, educação do campo e para o campo, lazer e acesso a
terra, água, Assistência Técnica e Extensão Rural e crédito para a produção de
alimentos. Tal iniciativa nos desperta o interesse de estarmos nos conhecendo e
aprofundando estudos sobre a nossa identidade camponesa, seja no meio rural ou
na periferia da cidade por sermos filhos(as) de agricultores(as) e por nos
preocuparmos com os cuidados com nossa casa comum. Ao observar o nosso trabalho
na Escola Popular, Pe. Herbert salientou que o trabalho da PJR é muito
importante, pois o campo não é como a mídia expõe. Que é importante
trabalharmos a política como um todo e colocar em prática o que aprendemos para
assim acontecerem as transformações que precisamos realmente.
Na
conjuntura política observamos que temos um emaranhado de problemas tanto na
realidade da política partidária, como também na política comum que nos envolve
cotidianamente. Repudiamos como juventude camponesa politizada, a corrupção
instalada em nosso país. Para superar essa deficiência percebemos que não
queremos retrocesso, como a derrubada do governo, pois não é tirando a
representante eleita de forma legítima e democrática que vamos crescer, mas a
solução vai vir quando entendermos que o Estado somos nós que construímos, e
nos cabe fiscalizar e debater pautas para o bem comum seja na esfera municipal,
estadual ou federal.
É
fundamental entendermos que é preocupante a situação das comunidades rurais, pois
falta terra para as nossas famílias trabalharem e produzir seus alimentos com
segurança. Detectamos situações incoerentes, como a renda paga pelo agricultor
sem terra de ¼ da produção para os proprietários de terras para quem o mesmo
trabalha, comunidades de mais de 100 famílias onde estas não tem terras
disponíveis para cultivar, está
concentrada na mão de meia dúzia de famílias. O uso de Agrotóxicos que não mata
só as ervas daninhas da lavoura, mas sim a terra, o ser humano ou qualquer
forma de vida que atingir.
Olhando
mais cuidadosamente a realidade a nível de Brasil, percebemos que a reforma
agrária foi esquecida pelos nossos governantes, pois de acordo com o documento
da CNBB nº 101 fala que dos anos de 2003 a 2011, segundo o INCRA, o acesso à
terra pela via dos assentamentos é da ordem de 613,0 mil famílias. Mas desde
2010, o Programa de Assentamento sofre várias crises, apenas estão assentando
pessoas em projetos pré-existentes, ficando muitas vezes novos e antigos
projetos paralisados, o que nos preocupa bastante.
Aos
poucos, nós jovens rurais percebemos o quanto a atividade que praticamos é
importante para o país, pois a agricultura familiar praticada por nós e por
nossos pais alimenta mais de 70% da população brasileira, mesmo faltando terra
para muitos, o que movimenta cerca de R$ 160 bilhões/ano, que significa mais
33% do Produto Interno Bruto (PIB) Agropecuário brasileiro.
No
Ceará, aproximadamente 2,4 milhões de pessoas residem na zona rural, na sua
grande maioria formada por agricultores e agricultoras familiares que detém
94,53% dos imóveis, num total de 55% da área ocupada, onde se produz,
aproximadamente, 12% do PIB do Estado, principalmente para os pequenos e médios
municípios, onde a produção agrícola e pecuária ainda é a principal fonte de renda
de parte significativa da população.
Nos
nossos municípios, a partir do que foram colocados pelos participantes,
percebemos que sofremos com o abandono do nosso campo, onde por falta de
políticas de inclusão social e de tecnologias que venham facilitar a relação do
homem do campo com semiárido, aonde a
juventude é forçada à sair do meio em que vive.
E por isso pautamos nesta carta que:
- A juventude camponesa junto com as suas famílias precisam ter acesso a terra para garantir uma produção baseada na agroecologia, forçando-nos a lutarmos contra a exploração do latifúndio. Exigimos dos nossos governantes em todos os âmbitos de representações a retomada das desapropriações de terras, e que essas sejam entregues a juventude camponesa com programas de formações e incentivos de produção.
- Queremos que os nossos administradores garantam acesso de qualidade nas estradas que interligam às nossas comunidades, que não sejam obras emergenciais que só gere renda para empresários. Que os trabalhos sejam de forma coerente de acordo com a necessidade.
- Exigimos que o nosso campo e as periferias das cidades não sejam esquecidos pela saúde pública, em que esse direito garantido pela constituição brasileira, venha a nos atender de forma efetiva, pois o modelo de política de saúde pública praticada hoje, não nos atende de forma satisfatória, e ainda na maioria das vezes é excludente.
- Pautamos aqui que precisamos de Educação de qualidade, onde repudiamos a política de fechamento das escolas rurais que obriga as nossas crianças, adolescentes e jovens a sair da sua comunidade de origem a procura de estudos nas cidades. E que em nossos municípios sejam implantadas a Educação Contextualizada, visando uma formação mais humana e coerente para os educandos da rede pública.
- Exigimos que os nossos governantes o reconhecimento dos potenciais educacionais das Escolas Famílias Agrícolas já existentes em nossos territórios, como a EFA Dom Fragoso e EFA da Ibiapaba, e as que estão projetadas. Tal iniciativa seja feita de imediato incluindo os investimentos financeiros, que até em tão não acontece.
- Exigimos dos nossos governantes que as tecnologias cheguem até nós, como banda larga, casas digitais no campo e programas de inclusões digitais; somos cidadãos como os demais e reafirmamos que não vamos abrir mão desses instrumentos que proporcionam a formação e informação de todos.
- Exigimos que seja criada uma delegacia para atender as mulheres vítimas de agressões na nossa região, pois na Regional de Crateús há necessidade urgente da instalação da Delegacia da Mulher, devido o aumento de violência que fere dia após dia os direitos das mulheres nos últimos anos.
- Pautamos também os avanços nas discussões sobre Sucessão Rural, que em cada município seja criado um plano de atuação pelas secretarias de Juventude e Agricultura, envolvendo as demais secretarias existentes, que esse plano abranja a juventude camponesa e a juventude que está nas periferias das cidades. E consequentemente a criação de um Conselho Municipal de Jovens com representações de todos os movimentos existentes em cada município.
- Deixamos claro que lutamos contra qualquer forma de violência sobre a juventude camponesa, a juventude da periferia das cidades e contra o extermínio dos nossos sonhos. Posicionamos-nos contra o preconceito, seja de gênero, cor, orientação sexual ou etnia.
Cientes
do exposto, reafirmamos que não abriremos mão do nosso lugar dentro das
Comunidades Eclesiais de Base onde estamos organizados e temos uma ligação com
a igreja, assim como Jesus Cristo, camponês libertador, amigo e
revolucionário. E desta forma estamos
dentro dos sindicatos, das associações ou de qualquer outro espaço objetivando
fazer valer os nossos direitos, e que “não é preciso ser filho de doutor, jovem da
roça também tem valor!”.
Assinam essa carta em apoio a Juventude Camponesa organizada na Pastoral da Juventude Rural:
Raimundo Rodrigues de Freitas – Pedagogo;
Natália Pereira Alves – Secretária de Juventude Rural do STTR de Ipueiras;
Jacó Camelo do Nascimento – Secretário de Juventude Rural do STTR de Nova Russas;
Lúcia Araújo Sousa – Presidenta do STTR de Nova Russas;
Luiz Vicente de Oliveira – Assessor Territorial – Território do Sertão de Cateús;
Francisco Rodrigues Belo – Partido dos Trabalhadores - PT e Federação das Entidades Comunitárias do Município de Ipueiras – FECEMIS;
Simão Araújo de Brito – Associação de Defesa Ambiental dos Produtores e Agricultores Familiares Ipueirense – ADAPAFI;
Antonio Rodrigues da Silva – Presidente do STTR de Ipueiras.
Tadeu Freire Pontes – Professor no DF (Matemático, Engenheiro, Advogado), filho de Ipueiras, ex-aluno do Colégio Estadual Otacílio Mota.
Nenhum comentário:
Postar um comentário