Carta Política da Juventude Camponesa da Área Norte da Diocese de Crateús-Ceará

“Nenhuma família sem casa,
Nenhum camponês sem terra,
Nenhum trabalhador com direitos negados”.
Papa Francisco
    
                                                                                         Nós, jovens camponesas e camponeses de comunidades rurais e periferias das cidades, educandos da EFA Dom Fragoso, Sindicalistas, estudantes secundaristas e universitários dos municípios de Ararendá, Nova Russas e Ipueiras da área norte da diocese de Crateús, somando forças: os jovens de Crateús e Quiterianópolis das áreas centro e sul, viemos solicitar do poder público um atendimento no que se refere as nossas demandas. Estivemos reunidos nos dias 11, 12 e 13 de março de 2016 na comunidade de Riacho Verde – Ipueiras com 35 jovens lideranças na 1ª Escola de Formação Popular da Pastoral da Juventude Rural – PJR, com o tema: “Juventude Camponesa, fé e política” com a assessoria de Padre Machado e Jacó Camelo, também contribuíram com as visitas de Padre Herbert e irmã Elza. Reunimo-nos desenvolvendo estudos, debate, formação em parceria com o Movimento Sindical Rural de Ipueiras e Nova Russas.
Reafirmamos que somos filhos e filhas da mãe terra (Gaia), e por isso que expressamos a nossa preocupação na permanência dos jovens no campo, saúde de qualidade para nós e nossas famílias, educação do campo e para o campo, lazer e acesso a terra, água, Assistência Técnica e Extensão Rural e crédito para a produção de alimentos. Tal iniciativa nos desperta o interesse de estarmos nos conhecendo e aprofundando estudos sobre a nossa identidade camponesa, seja no meio rural ou na periferia da cidade por sermos filhos(as) de agricultores(as) e por nos preocuparmos com os cuidados com nossa casa comum. Ao observar o nosso trabalho na Escola Popular, Pe. Herbert salientou que o trabalho da PJR é muito importante, pois o campo não é como a mídia expõe. Que é importante trabalharmos a política como um todo e colocar em prática o que aprendemos para assim acontecerem as transformações que precisamos realmente.
Na conjuntura política observamos que temos um emaranhado de problemas tanto na realidade da política partidária, como também na política comum que nos envolve cotidianamente. Repudiamos como juventude camponesa politizada, a corrupção instalada em nosso país. Para superar essa deficiência percebemos que não queremos retrocesso, como a derrubada do governo, pois não é tirando a representante eleita de forma legítima e democrática que vamos crescer, mas a solução vai vir quando entendermos que o Estado somos nós que construímos, e nos cabe fiscalizar e debater pautas para o bem comum seja na esfera municipal, estadual ou federal.
É fundamental entendermos que é preocupante a situação das comunidades rurais, pois falta terra para as nossas famílias trabalharem e produzir seus alimentos com segurança. Detectamos situações incoerentes, como a renda paga pelo agricultor sem terra de ¼ da produção para os proprietários de terras para quem o mesmo trabalha, comunidades de mais de 100 famílias onde estas não tem terras disponíveis para cultivar,  está concentrada na mão de meia dúzia de famílias. O uso de Agrotóxicos que não mata só as ervas daninhas da lavoura, mas sim a terra, o ser humano ou qualquer forma de vida que atingir.
Olhando mais cuidadosamente a realidade a nível de Brasil, percebemos que a reforma agrária foi esquecida pelos nossos governantes, pois de acordo com o documento da CNBB nº 101 fala que dos anos de 2003 a 2011, segundo o INCRA, o acesso à terra pela via dos assentamentos é da ordem de 613,0 mil famílias. Mas desde 2010, o Programa de Assentamento sofre várias crises, apenas estão assentando pessoas em projetos pré-existentes, ficando muitas vezes novos e antigos projetos paralisados, o que nos preocupa bastante.
Aos poucos, nós jovens rurais percebemos o quanto a atividade que praticamos é importante para o país, pois a agricultura familiar praticada por nós e por nossos pais alimenta mais de 70% da população brasileira, mesmo faltando terra para muitos, o que movimenta cerca de R$ 160 bilhões/ano, que significa mais 33% do Produto Interno Bruto (PIB) Agropecuário brasileiro.
No Ceará, aproximadamente 2,4 milhões de pessoas residem na zona rural, na sua grande maioria formada por agricultores e agricultoras familiares que detém 94,53% dos imóveis, num total de 55% da área ocupada, onde se produz, aproximadamente, 12% do PIB do Estado, principalmente para os pequenos e médios municípios, onde a produção agrícola e pecuária ainda é a principal fonte de renda de parte significativa da população.
Nos nossos municípios, a partir do que foram colocados pelos participantes, percebemos que sofremos com o abandono do nosso campo, onde por falta de políticas de inclusão social e de tecnologias que venham facilitar a relação do homem do campo com  semiárido, aonde a juventude é forçada à sair do meio em que vive.  E por isso pautamos nesta carta que:
  •      A juventude camponesa junto com as suas famílias precisam ter acesso a terra para garantir uma produção baseada na agroecologia, forçando-nos a lutarmos contra a exploração do latifúndio. Exigimos dos nossos governantes em todos os âmbitos de representações a retomada das desapropriações de terras, e que essas sejam entregues a juventude camponesa com programas de formações e incentivos de produção.
  •       Queremos que os nossos administradores garantam acesso de qualidade nas estradas que interligam às nossas comunidades, que não sejam obras emergenciais que só gere renda para empresários. Que os trabalhos sejam de forma coerente de acordo com a necessidade.
  •          Exigimos que o nosso campo e as periferias das cidades não sejam esquecidos pela saúde pública, em que esse direito garantido pela constituição brasileira, venha a nos atender de forma efetiva, pois o modelo de política de saúde pública praticada hoje, não nos atende de forma satisfatória, e ainda na maioria das vezes é excludente.
  •          Pautamos aqui que precisamos de Educação de qualidade, onde repudiamos a política de fechamento das escolas rurais que obriga as nossas crianças, adolescentes e jovens a sair da sua comunidade de origem a procura de estudos nas cidades. E que em nossos municípios sejam implantadas a Educação Contextualizada, visando uma formação mais humana e coerente para os educandos da rede pública.
  •        Exigimos que os nossos governantes o reconhecimento dos potenciais educacionais das Escolas Famílias Agrícolas já existentes em nossos territórios, como a EFA Dom Fragoso e EFA da Ibiapaba, e as que estão projetadas. Tal iniciativa seja feita de imediato incluindo os investimentos financeiros, que até em tão não acontece.
  •      Exigimos dos nossos governantes que as tecnologias cheguem até nós, como banda larga, casas digitais no campo e programas de inclusões digitais; somos cidadãos como os demais e reafirmamos que não vamos abrir mão desses instrumentos que proporcionam a formação e informação de todos.
  •          Exigimos que seja criada uma delegacia para atender as mulheres vítimas de agressões na nossa região, pois na Regional de Crateús há necessidade urgente da instalação da Delegacia da Mulher, devido o aumento de violência que fere dia após dia os direitos das mulheres nos últimos anos.
  •          Pautamos também os avanços nas discussões sobre Sucessão Rural, que em cada município seja criado um plano de atuação pelas secretarias de Juventude e Agricultura, envolvendo as demais secretarias existentes,  que esse plano abranja a juventude camponesa e a juventude que está nas periferias das cidades. E consequentemente a criação de um Conselho Municipal de Jovens com representações de todos os movimentos existentes em cada município.
  •       Deixamos claro que lutamos contra qualquer forma de violência sobre a juventude camponesa, a juventude da periferia das cidades e contra o extermínio dos nossos sonhos. Posicionamos-nos contra o preconceito, seja de gênero, cor, orientação sexual ou etnia.

Cientes do exposto, reafirmamos que não abriremos mão do nosso lugar dentro das Comunidades Eclesiais de Base onde estamos organizados e temos uma ligação com a igreja, assim como Jesus Cristo, camponês libertador, amigo e revolucionário.  E desta forma estamos dentro dos sindicatos, das associações ou de qualquer outro espaço objetivando fazer valer os nossos direitos, e que “não é preciso ser filho de doutor, jovem da roça também tem valor!”.

Assinam essa carta em apoio a Juventude Camponesa organizada na Pastoral da Juventude Rural:
Raimundo Rodrigues de Freitas – Pedagogo;
Natália Pereira Alves – Secretária de Juventude Rural do STTR de Ipueiras;
Jacó Camelo do Nascimento – Secretário de Juventude Rural do STTR de Nova Russas;
Lúcia Araújo Sousa – Presidenta do STTR de Nova Russas;
Luiz Vicente de Oliveira – Assessor Territorial – Território do Sertão de Cateús;
Francisco Rodrigues Belo – Partido dos Trabalhadores - PT e Federação das Entidades Comunitárias do Município de Ipueiras – FECEMIS;
Simão Araújo de Brito – Associação de Defesa Ambiental dos Produtores e Agricultores Familiares Ipueirense – ADAPAFI;
Antonio Rodrigues da Silva – Presidente do STTR de Ipueiras.
Tadeu Freire Pontes – Professor no DF (Matemático, Engenheiro, Advogado), filho de Ipueiras, ex-aluno do Colégio Estadual Otacílio Mota.


























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