Dos valores aos amores, a cor continua sendo motivo das dores, o quartel tá cheio, cheio de cidadãos honrando o nome do país, com rifles e canhões e até espadas nas mãos. As senzalas também, honrando o nome do patrão, com foice e enxada, mas sem nenhuma valorização.
Ouvir dizer que algumas já se esvaziaram, mas a carta de alforria não foi entregue, as cordas desceram aquele caixão para debaixo do chão, ou talvez foi-se jogado no mar sem fim, até porque preto não tem direito a um bom jardim.
E por falar em jardim, lembro-me das últimas flores que entreguei ao meu amor, o contraste do vermelho com o preto de tua cor me fazia sorrir, imaginando a luta para fugir. Mais tarde, o juízo final, ladrão sem vergonha, por arrancar uma mísera flor, pra alegrar meu amor, do maldito jardim do senhor opressor.
Hoje deito neste chão morno, lembrando do ardente corte das chicotadas, lembrando da frieza do chão sujo, lembrando do tempo em que fui mudo.
Lembrando do meu grito engasgado na garganta, lembrando do sangue que escorria e sujava o límpido chão do senhor dos escravos.
- Katie Lê
Cocal - PI
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